O papa Francisco, que faleceu na madrugada desta segunda-feira (21) aos 88 anos, após complicações de uma pneumonia bilateral, recebeu muitas demonstrações de carinho e devoção ao longo da vida. Um desses gestos aconteceu em setembro de 2023, quando o escultor mineiro Rogério Godoy presenteou o pontífice com uma obra sacra criada por ele.
A imagem foi produzida em uma das cidades brasileiras consideradas referência na arte barroca, São João del Rei, e entregue a Francisco pelo reitor da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), Marcelo Andrade, em encontro no Vaticano.
No momento em que recebeu em mãos o presente, o papa agradeceu, apreciando a extrema expressividade inscrita na simplicidade da obra.
No encontro, o reitor entregou ainda um ofício de “Filiação da Universidade Federal de São João del-Rei à construção de um mundo igualitário, justo e pacífico”, como símbolo do entendimento do papel que a UFSJ tem na busca de uma sociedade mais justa e igualitária.
Madonna in Blues & Gold
A “Madonna in Blues & Gold” é uma escultura de 25 cm de altura, feita em cerâmica modelada à mão e posteriormente “queimada” em forno de altíssima temperatura. A peça é revestida com esmaltes vidrados azuis e aplicações de folha de ouro 23,5 quilates.
A base é feita de madeira (canela sassafrás), confeccionada a partir do aproveitamento do trabalho de um marceneiro da região. A folha de ouro é um material usado em diversas técnicas artísticas e em restaurações, tendo custo menor que o metal propriamente dito.
Legado de tolerância e diálogo
Nascido em 17 de dezembro de 1936 em Buenos Aires, na Argentina, Francisco foi o primeiro papa latino-americano da história. Ele também foi o primeiro pontífice da era moderna a assumir o papado após a renúncia do seu antecessor e, ainda, o primeiro jesuíta no posto.
À frente da Igreja Católica por quase 12 anos, Francisco foi o papa número 266. Em 13 de março de 2013, durante o segundo dia do conclave para eleger o substituto de Bento XVI, Bergoglio foi escolhido como o novo líder – inclusive contra a sua própria vontade, segundo ele mesmo admitiu.
Apesar de ter sido eleito papa contra a própria vontade, a carreira de Francisco no catolicismo foi uma escolha própria do argentino. Formado em Ciências Químicas e professor de Literatura, o religioso filho de imigrantes italianos acabou optando por se dedicar aos estudos eclesiásticos.
Seu perfil jovial e descontraído — ele gostava de fazer piadas e brincadeiras — o tornou uma opção popular entre os colegas cardeais e uma escolha antes de mais nada conjuntural.
A modernidade também levou Francisco a lidar com outros assuntos delicados para a Igreja, como os direitos LGBTQIA+ e o sexismo.
Ele foi elogiado por avanços como o de permitir bênçãos de padres a casais do mesmo sexo, colocar mulheres em cargos mais altos no Vaticano e permitir que elas votassem no Sínodo dos Bispos — a reunião em que bispos debatem e decidem questões ideológicas e regimentos internos.
O papa defendia que apenas cristãos do sexo masculino poderiam ser ordenados para o sacerdócio, usando como base a premissa da Igreja Católica de que Jesus escolheu homens como apóstolos.